Resumo da notícia publicada no Portal da EESC-USP no 6 de agosto de 2024.
Estudantes da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) desenvolveram uma nova versão de modelos hidrológicos e hidrodinâmicos comunitários. Esses modelos utilizam técnicas avançadas para simulações de inundações em rios e várzeas, mesmo em locais com pouca ou nenhuma informação prévia. Esses avanços são fundamentais diante das mudanças climáticas e da maior frequência de eventos extremos, como as enchentes históricas no Rio Grande do Sul em maio deste ano.
As novas ferramentas permitem previsões detalhadas e facilitam a definição de políticas públicas para zoneamento de áreas de risco e sistemas de alerta antecipados, aumentando a prevenção de desastres. Segundo Mário Mendiondo, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC e coordenador do grupo de alunos, os modelos hidrológicos e hidrodinâmicos precisam ser constantemente atualizados com informações do solo, meteorologia e estado de umidade, o que é essencial para previsões precisas e para salvar vidas.
A tragédia das chuvas intensas no Rio Grande do Sul ilustra a relevância desses modelos. Apesar dos alertas prévios do CEMADEN, a falta de integração com modelos hidrológicos/hidráulicos impediu que a Defesa Civil local previsse com exatidão as áreas inundadas, resultando em tragédias. No Brasil, mais de 40 mil áreas mapeadas estão sujeitas a alagamentos, e modelos avançados como os desenvolvidos pela EESC são essenciais para aumentar a segurança.
Os novos modelos, desenvolvidos em colaboração com a Universidade do Texas, são capazes de simular o balanço hídrico e os complexos movimentos de escoamento de rios, especialmente em áreas de várzeas e alagados. Esses modelos foram aplicados para o planejamento da drenagem futura de São Carlos-SP e para prever rompimentos de barragens, com simulações preliminares em regiões afetadas por inundações na África e no Oriente Médio.
O desenvolvimento desses modelos na EESC contou com a participação de estudantes de diversos países latino-americanos. Entre eles, destacam-se Caline Leite, Maria Andrade Rocha Alencar e Marília Felten do Brasil, Mateo Hernandez Sanchez da Colômbia, Luís Miguel Castillo Rapalo de Honduras, e Fabrício A Richmond Navarro da Costa Rica, entre outros.
Mendiondo destaca que a alta sinergia de projetos interdisciplinares, colaboração internacional e uma ciência mais humanitária foram fundamentais para o desenvolvimento desses modelos. A previsão precisa de inundações é vital para retirar moradores de áreas de risco e orientar políticas públicas de zoneamento seguro. Além disso, esses modelos ajudam a estimar impactos de outros desastres, como secas severas, e a utilização de reservatórios de água doce.
O projeto foi aplicado como estudo de caso para prevenir riscos de inundações em Honduras e tem como próximo objetivo a América Latina. Com apoio da CAPES, FAPESP e cooperação internacional, o desenvolvimento dos modelos continua, visando robustez e operacionalidade até a COP30 em 2025.
Mendiondo ressalta que esses modelos comunitários de código aberto permitem que outras comunidades de pesquisadores os utilizem e melhorem conforme suas necessidades locais. “É o que chamamos de solidariedade da ciência para salvar vidas”, conclui.
Este avanço foi apresentado em eventos internacionais e conta com o apoio de instituições como a UNESCO e o CNPq, promovendo uma justiça climática pela ciência e inserindo conhecimento nos diálogos de transição climática.